Pouco se fala disso com profundidade. Eu mesmo fiquei surpreso quando comecei a estudar. A maioria das pessoas pensa que tudo começou com a conversão de Constantino. Mas não. A raiz é bem mais antiga.
A Igreja Católica surge com uma promessa. Sim, lá atrás, nas palavras de Jesus a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. Esse é o ponto de partida.
Depois disso, os apóstolos saíram pelo mundo. E aos poucos, o que era apenas um grupo pequeno de seguidores se tornou algo muito maior.
Como o Cristianismo virou religião oficial?
Foi um caminho longo e cheio de tensão. No início, os cristãos eram perseguidos. Mortos nos circos romanos. Vistos como inimigos do Império.
Mas algo mudou. No século IV, o imperador Constantino teve uma visão antes de uma batalha decisiva. Segundo ele, viu uma cruz no céu com a frase: “Com este sinal vencerás”.
E venceu.
A partir dali, o Cristianismo deixou de ser marginalizado. No ano 313, com o Édito de Milão, passou a ser aceito oficialmente. E logo depois, se transformou na religião do Império Romano.
Por que Roma se tornou o centro da fé?
Isso não foi por acaso. Pedro, o apóstolo, foi martirizado em Roma. Seu túmulo está lá. E com isso, Roma virou símbolo de autoridade espiritual.
O bispo de Roma ganhou força. Passou a ser chamado de Papa. E com o tempo, sua autoridade foi reconhecida como superior aos outros bispos.
Nascia ali a estrutura hierárquica da Igreja Católica Apostólica Romana. Com o Papa no topo.
O que mudou com a queda do Império Romano?
Tudo. E nada ao mesmo tempo.
O império desmoronou no Ocidente. Mas a Igreja permaneceu. Assumiu funções políticas, sociais, até militares em alguns momentos.
Foi a ponte entre o antigo e o novo mundo europeu. E com isso, expandiu seu poder. Monastérios surgiram. A educação foi preservada por monges copistas. A fé continuou viva entre ruínas.
A Idade Média foi o auge do poder católico?
Foi, sim. Mas também foi uma fase de grandes contradições.
A Igreja controlava reis. Coroava imperadores. Estabelecia dogmas. Dominava o imaginário popular com seus rituais, festas e proibições.
Ao mesmo tempo, surgiam abusos. Venda de indulgências. Corrupção interna. Disputas entre papas rivais.
Foi nesse cenário que surgiram movimentos de reforma. Pessoas que ousaram questionar o poder de Roma.
O que a Reforma Protestante abalou?
Tudo. Foi um terremoto espiritual e político.
Martinho Lutero, em 1517, fixou suas 95 teses numa porta. E ali começou o maior racha da história da Igreja. A Europa se dividiu. Guerras religiosas explodiram.
A Igreja Católica reagiu. Veio o Concílio de Trento. Uma contra-reforma que reafirmou doutrinas, corrigiu excessos e renovou o fervor missionário.
Nasciam ordens como os jesuítas, com um objetivo claro: reconquistar almas.
Como a Igreja Católica sobreviveu à modernidade?
Com resistência, adaptações e muita estratégia.
No século XIX, o Papa perdeu os Estados Pontifícios. Mas ganhou autoridade moral. Em 1870, proclamou-se o dogma da infalibilidade papal.
E no século XX? Vieram dois concílios importantes. O Vaticano I e, mais recentemente, o Vaticano II.
Este último modernizou a liturgia, aproximou-se dos fiéis e tentou dialogar com o mundo moderno.
O que representa a Igreja hoje?
Mais de um bilhão de fiéis. Uma voz global. Uma instituição com dois mil anos de história.
Mas também uma estrutura que ainda luta contra escândalos, desafios internos e crises de fé.
A Igreja Católica Apostólica Romana não é apenas uma herança do passado. Ela é um espelho em que o mundo continua se olhando — com fé, dúvidas e esperança.
E eu continuo fascinado com o que ela ainda pode se tornar.
Ainda existe espaço para a Igreja no século XXI?
Essa pergunta me persegue. Em um mundo acelerado, digital e cada vez mais cético, onde encaixar uma instituição milenar com rituais antigos e dogmas fixos?
Mas é justamente aí que mora a força da Igreja. Enquanto tudo muda, ela insiste em permanecer. Mesmo que muitos a critiquem, ela segue ocupando um espaço que nenhuma outra instituição ocupa: o da transcendência.
Ela fala de alma. De eternidade. De perdão. De valores que não caducam com o tempo.
E por isso ainda atrai tantos. Jovens inclusive.
Como ela lida com temas polêmicos?
Com cautela. Às vezes até com lentidão. Mas lida.
Assuntos como aborto, sexualidade, união homoafetiva e papel da mulher têm provocado debates intensos dentro da Igreja.
O Papa Francisco, por exemplo, tem feito movimentos importantes. Ele não muda dogmas, mas muda o tom. O olhar. O acolhimento.
E isso tem gerado esperanças em muitos corações, e resistência em tantos outros.
A Igreja Católica é, ao mesmo tempo, casa de fé e campo de batalha ideológica.
O que aprendemos com essa longa história?
Que fé e poder caminham juntos, mas nem sempre em paz. Que o ser humano busca respostas maiores, mesmo quando tudo parece racional demais.
Aprendi também que a Igreja é feita de pessoas — frágeis, contraditórias, inspiradoras.
E que apesar das quedas, ela se reconstrói. Não apenas em catedrais, mas no silêncio de quem reza, na solidariedade anônima, na fé que atravessa gerações.
E agora? Qual será o futuro da Igreja?
É difícil prever. Mas algo é certo: ela nunca deixou de se transformar.
Talvez vejamos mais abertura. Ou uma volta às raízes. Talvez novos cismas, ou novas alianças.
O mundo muda. E a Igreja, mesmo com seu ritmo próprio, sempre responde de algum modo.
Ela ainda provoca. Ainda encanta. Ainda incomoda.
E talvez seja justamente por isso que ela ainda vive. Porque não se contenta em ser apenas um monumento do passado. Ela quer, de alguma forma, continuar fazendo parte do agora. E do que virá.